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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

DTM e sua a relação com alterações oclusais e a ortodontia

A disfunção temporomandibular (DTM) é uma doença complexa, com causas multifatoriais, e os sinais e sintomas podem se manifestar por meio de várias formas. A forte relação da dentição com a DTM foi estabelecida de forma errada há muitos anos, Essas ideias de tratamento provocam insatisfação nos que acompanham a ciência e prejudicam os que se submetem aos tratamentos.

Na presença de artigos científicos mais consistentes, a relação dessas três entidades, DTM, Alterações Oclusais e Ortodontia tem sido amplamente questionado, e é muito provável que uma mudança de paradigma esteja acontecendo na área da DTM.

A articulação temporomandibular (ATM) é, certamente, uma das mais complexas articulações do
corpo humano e, como parte do sistema estomatognático, está diretamente relacionada a funções fisiológicas gerais. Interliga tecidos independentes, mantendo a eficiência dos movimentos e a estabilidade da mandíbula. É responsável pelos movimentos mastigatórios e pelas atividades funcionais, como falar, mastigar e deglutir. É uma articulação que sofre continuamente mudanças
estruturais. Essas mudanças ocorrem por modelação e remodelação óssea e são responsáveis pela adaptação do tecido articular frente às forças contínuas que atuam sobre este. Ultrapassando o limite da ATM, as forças atuantes nesse tecido tornam-se injúrias, favorecendo o aparecimento da DTM.

A participação dos fatores oclusais e os hábitos parafuncionais na etiologia da DTM são controversos. Segundo alguns estudos, esses distúrbios podem ocorrer em razão de alterações genéticas, traumas e/ou problemas psicossociais e podem produzir alterações suficientes para desencadear problemas na articulação temporomandibular

Bósio31 (2004) cita que durante os anos 1970 e 1980 a ideia da relação causal entre DTM e má oclusão era evidente. Consequentemente, a DTM deveria desaparecer quando eliminada a má oclusão por meio de um tratamento ortodôntico ou protético proporcionado pela mudança de esquema oclusal. A partir de 1990, as evidências têm mostrado que não há diferença nos sinais e sintomas de DTM entre os pacientes que foram tratados ortodonticamente e os que não foram tratados.

A necessidade de investigar o relacionamento entre ortodontistas e DTM vem da ocorrência de casos
legais em que pacientes responsabilizaram ortodontistas por causar sintomas de DTM durante ou
após o tratamento ortodôntico.

Num estudo longitudinal de corte investigando o relacionamento entre tratamento ortodôntico
e DTM, Macfarlane et al. (2009) concluíram que o tratamento ortodôntico não causa nem previne
DTM e que participantes com história de tratamento ortodôntico não têm risco elevado de desenvolver DTM.

Embora muitos ortodontistas afirmem que há uma melhora no quadro de sintomas da DTM imediatamente após a instalação do aparelho ortodôntico, tem sido aceito que boa parte dessa evolução é em virtude da nova situação intraoral, desencadeando um processo de cognição, onde a nova situação funciona como um alerta para o indivíduo abandonar os maus hábitos, como, por exemplo, apertar os dentes, além de aumentar a sua aderência ao tratamento, incrementando o índice de sucesso do mesmo.

Para Machen (1990), antes do tratamento ortodôntico é aconselhável executar uma triagem
para examinar a presença de DTM. Por razões médico- legais, todos os achados, incluindo sons, desvios durante os movimentos mandibulares ou dor devem ser anotados e atualizados a cada seis meses e um consentimento informado deve ser assinado pelo paciente

Se o paciente apresentar sinais e sintomas antes do tratamento ortodôntico, o primeiro passo deve ser a obtenção de um diagnóstico; segundo é resolver a dor, seguindo um protocolo conservativo
de tratamento, incluindo farmacoterapia, Fisioterapia, terapia comportamental,  ou aparelhos oclusais

Especialidades dentro da odontologia defendiam diferentes conceitos para os efeitos causais e
curativos da DTM. Os primeiros sinais e sintomas foram descritos por Costen em 1934, e vários autores passaram a acreditar nesses conceitos específicos. Costen acreditava que os problemas de disfunção temporomandibular eram ocasionados pela má oclusão. Além disso, ele defendia que mudanças na condição dental guiariam mudanças anatômicas na ATM, criando sintomas auriculares

As alterações oclusais inicialmente foram postuladas como principais fatores etiológicos de DTM, e com a evolução das pesquisas essa relação foi perdendo força

De acordo com a opinião científica, nenhuma dessas colocações é evidente. A maior parte dos estudos executados usando um delineamento apropriado e avaliando variáveis relevantes foi incapaz de mostrar que a terapia ortodôntica tem efeito preventivo ou curativo na ocorrência de DTM

Por ser cada vez mais frequente o aparecimento de pacientes portadores de DTM na clínica diária, a
exigência por parte do profissional aumenta não só pelo conhecimento dessa doença e suas implicações, mas também pelo manejo apropriado desses indivíduos com uma visão holística, Global do Paciente e multidisciplinar.

Até o presente momento, com base na literatura pertinente, parece lícito afirmar que a DTM apresenta um caráter multifatorial, com diagnóstico e tratamento complexos, exigindo um conhecimento amplo e multidisciplinar para o tratamento adequado dos pacientes.

Embora permaneçam assuntos controversos, as evidências científicas parecem não suportar a relação
ortodontia-DTM, bem como a relação oclusão--DTM

Referências:

Bósio JÁ. O paradigma da relação entre oclusão, Ortodontia e disfunção têmporo-mandibular. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial 2004; 9(6):84-9.
Pullinger AG, Seligman DA. Quantification and validation
of predictive values of occlusal variables in temporomandibular disorders using a multifactorial analysis. J Prosthet Dent 2000; 83(1):66-75.
Mcnamara JA, Seligman D, Okeson J. Occlusion, Orthodontic treatment and temporomandibular disorders: a review. J Orofacial Pain 1996; 9(1):73-90.
Marinho CC, Cruz FLG, Leite FPP. Correlação entre a oclusão e a disfunção temporomandibular. Rev Odonto 2009; 17(34):49-55.